APRESENTAÇÃO

“Filho mais novo, não fala mais alto que filho mais velho”, o refrão da cantiga que anuncia a hierarquia espiritual própria aos terreiros e à capoeira, tem seu canto ritmado pelo som de som de atabaques, pandeiro, agogô , caixixi e por vezes, um prato ou outro utensílio tocado de maneira improvisada. No passo miúdo e arrastado, as mulheres comandam a . E assim segue o samba de roda, de cozinha ou caboclo realizado também em paragens paranaenses, como registrou a pesquisa de Flávia Cachineski Diniz (2007) sobre o samba de roda feito em terreiros e grupos de capoeira da capital. É a partir do trabalho desta pesquisadora, e mobilizadas pelas práticas ainda vigentes em quintais, barracões e outros espaços que abrigam essa forma de expressão do patrimônio imaterial brasileiro, que propomos este projeto de inventário do samba de roda em Curitiba. O canto, o toque e a dança são coletivos, e como escreveu o Babalorixá Israel Machado “é uma forma de agradecer a Deus, pela semana que passou e você ainda ter saúde, ter vida pra poder festejar seu cotidiano”.

Nos terreiros, algumas figuras são centrais na história do samba de roda em Curitiba e orientarão o processo de pesquisa proposto neste projeto: como o Babalorixá Antônio de Oiá, Tata Tinkisi Dona Cida de Ogum e João Caramês e Israel Machado. Para tanto, a proposta metodológica é alinhada aquela produzida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), tendo enquanto referência projetos como “Lugares de Axé: Inventário dos Terreiros de Candomblé de Curitiba e Região Metropolitana”, viabilizado pela Fundação Cultural de Curitiba. Dessa forma, todo o processo terá ações e conceitos dialogados com os detentores e agentes do samba de roda, bem como terão lugar de escuta suas demandas e proposições sobre o direito de seguirem sambando e festejando suas existências e ancestralidades. Pois como diz outra cantiga, lembrada pelo projeto como marca da presença feminina e do matriarcado, no samba “tá comigo, tá com Deus, pois amor de mãe sou eu”.